Uma
História
Mal Contada
Entenda uma coisa, não existe um yogar universal. Yoga para todes, exige, se diferenciar; caso contrário, um alien imutável passa a viver dentro de você, como você. Mas partimos, sim, de ‘algo’ universal aos yogas: o corpo que se modifica incessantemente, produzindo mentes, igualmente, mutante.
A realidade é um caos! Samsara é bem mais interessante do que Tattva para o real do yogin popular brasileiro. Para existir uma ordem nas coisas, inventam-se jeitos, e a beleza da vida segue em todo o seu esplendor. Só opressores creêm numa só ordem para vários corpos.
Sem uma ‘ordem universal’ para chamar de sua, como dizer que eu, não você, está certo, é bom, moral e justo? Tradições com inspirações opressoras surgem desse caldo, se tornando “desejáveis” aos desatentos e oprimidos: não há alternativas, eles bradam. Os rebeldes, selvagens e nômades, estão à margem, num ‘entre’ social, organizando pluralidades comunais e o Yoga é um exemplo vivo disso. Não acredita?
Leia o Upanisads, mas sem comentários. Por sete séculos de cultura védica, não houve se quer uma menção ao Yoga. Nadica de nada. É só no século IX aEC que surge, em corpos florestais, referências ao que denominaram de Yoga hoje. Estranhos às cidades arianas, estes {yogins rurais} conhecem através de seus corpos yogares diversos, representando esse saber corp[oral]mente antes da letra. Opera-se nas raízes yoguicas saberes de corpos além do que palavras com_portam: é o ‘estado de yoga’.
A subversão aqui reside nas práticas yoguicas (corporais e textuais), que ‘não devem ser indagadas em seus sentidos, mas em seus efeitos’: filósofes do corpo! Não era o corpo sendo {purificado ou acalmado} a ler as escrituras, mas corpos como linguagem e, só depois, {escrevinhados} no q {ficou} do {estar} em yogamento. Os yogins metafísicos só funcionam em culturas que desprezam os corpos. A ideia do Hatha-Yoga preparando para o Raja-Yoga, revela subjugação de toda e qualquer aproximação corpórea de verdades filosóficas, sendo punida pela vergonha e o medo do corpo que estamos sendo.
Sou pesquisador de corpos em yogamentos e me interesso pela etologia dos yogas muito mais do que suas classificações.
Graduado em Ed. Física, Especialista em Psicologia, Fisiologia e Yoga. É Mestre e Doutor em Ciência da Religião com pós-doutorado. Atualmente é pesquisador do Centro de Estudos em Religiões Alternativas (PUC-SP) e produz conteúdo digital para o Yoga Contemporâneo.