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Dr.Roberto Simões

Um ensaio sobre o (possível) diálogo entre biologia e comportamento religioso


Como entender por que pessoas normais (sem patologias) aderem a práticas religiosas consideradas descabidas, sem nenhuma ordem "lógica/racional"? "Se os seres humanos são racionais, por que dedicam tanto tempo, energia e recursos a atividades doloroas ou, no mínimo, desconfortáveis? (…) por que crenças, práticas e instituições religiosas continuam a ser um componente essencial da vida social humana?"

Há um plano adaptativo, do ponto de vista da teoria evolucionista, que explica isso? "Os ecólogos comportamentais supõem que a seleção natural moldou o sistema nervoso de forma que este responda com êxito às várias circunstâncias do meio. (…) a seleção natural formou nossos mecanismos de tomada de decisão para melhorar o modo com que obtemos recursos sob diversas condições do ambiente - uma previsão do forregeamento ótimo". No entanto, as práticas religiosas parecem ser contraproducentes para muitos.

Malinowski, antropólogo funcionalista, entendia que a religião servia para atenuar o nosso medo da morte e proporcionar alguma satisfação à incessante busca por respostas, mas não explicava os rituais.

William Irons, ecólogo comportamental diz que "o principal beneficio da religião é a colaboração no interior do grupo em relação a atividades fundamentais em nossa história evolutiva". Para ele, a religião funciona como um mecanismo social para que a cooperação seja equânime entre os parceiros e ninguem tire proveito da outra. O dispêndio de energia em um ritual aparentemente inócuo para sobrevivencia da espécie humana se torna importante, pois mostra que este pertence a um grupo especifico, como quando um judeu se veste com pesadas roupas no verão do Brasil, ele está dizendo que a sua fé é maior do que um outro, pois ele pertence a um grupo ortodoxo, por exemplo. Eles estão mostrando o seu grau de adesão a um grupo religioso.

Quais as vantagens da adesão? Pois é sabido que quanto maior as exigências a um grupo religioso, maior o números dos seus adeptos. Finke & Stark, analisaram uma baixa no número de cristãos depois do 2o. Concilio do Vaticano em 1962 que diminuiu as exigências católicas para ser um cristão.

"A crença em agentes sobrenaturais como deuses e espiritos parece ser crucial à capacidade da religião de promover cooperação a longo prazo" (Boyer e Atran, em Natureza contraintuiitiva). Roy Rappaport explica que, entre os religiosos, ironicamente, as crenças e proposições que não podem ser falseadas, e portanto estão, além da possibilidade de investigação critica, geram maior adesão, pois só podem ser confirmadas emocionalmente. Viver em uma sociedade solidária entre si, fato proporcionado muito mais entre grupos religiosos com fortes restrições, é uma das grandes vantagens adaptativas proporcionada pela religião, pois unificados (adesão/filiação) sempre facilitou a defesa e a competição com os outros grupos. Em nível neurofisiologico, persistimos em uma tarefa por ação do nosso "centro de recompensa e prazer" neural - a via dopaminergica -e que nos proporciona a sensação de bem-estar - via serotonina e das endorfinas. Parece licito supor a participação destas vias neurofisiológicas na adesão/filiação/conversão(?), ainda mais quando nossas ações só podem ser confirmadas pelas emoções e não pela "razão", mas por crenças não verificáveis criticamente.

Com isso não quero "reduzir" a filiação religiosa a fisiologia, mas mostrar que o nosso corpo tem sim participação neste processo, ao lado do aspecto social, psicolólogico, filosófico e semiótico.

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