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VOCÊ NÃO ESTÁ LIVRE: OU COMO CUIDAR DE SI

Atualizado: 30 de jul. de 2022


Livre não há ninguém. Somos todos capturados pela sociedade em que vivemos. São 3 categorias de captura: ou pela terra, pelo déspota ou capital. Provavelmente você, assim como eu, é cativo do capital.


Ser cativo é ter os desejos direcionados ou organizados de fora. Há uma organização social da realidade em que vivemos, e desde cedo isso ocorre, incorre, incorpora-se; por isso todo processo libertário é, mais do que exorcismo (que acompanha a ideia de higiene do corpo depositário do mal), metabolismo. Em processo de libertação aqui é, antes, metabolizado no estar à espreita do cativeiro, compreender seu funcionamento e como opera em nossos corpos essa servidão, muitas vezes, voluntária.


Aprender a cuidar de si, é uma maneira de viver com prazer e sem a culpa de ser|estar alegre. É raro todo aquele que vive em busca de sentido. Sem dúvidas é uma extravagância realmente se dedicar a essa luta, resistência ou tensão; não à toa, estes seres em luz, podem se sentir deslocados, sobretudo em coletivos marcados pela obtenção de lucro| vantagem em tudo, como a capitalista em que vivemos. Há ainda os corpos despóticos e os selvagens, mesmo que diferentes, estão capturados e necessitam vencer resistências, dores, alegrias e medos.


_Sensações e Percepções_


Somos mais que os órgãos, músculos e sangue que nos constituem, mas nunca mais do que um corpo. É que, nem tudo que nos afecta é percebido, muito passa (por nós: corpos) despercebido. Há infinitos mundos que não sentimos passar, são invisíveis.


Sensações são fluxos que, em contato com corpos, produzem estímulos psicofísicos que só serão compreendidos quando conscientes, ou seja, nomeados (significados: com sentido| signo), caso contrário, vivem e atuam inconscientes, mas ainda no corpo.

Percebemos então, o que é ou está nomeado, sabido, conceituado. O restante existe, é real, mas não é nada até ser percebido: conjunto de sensações cristalizados num conceito que vive dentro de um plano de consistência ou cartografia. Um cachimbo ou cadeira são, pois sabemos; e, aquilo tudo que nos toca, portanto, construímos uma ideia, pois experienciamos. As nossas experiências, ideias, vivências, todo acúmulo de tempo e duração que somos, são inventados dos encontros com outros corpos. Nossa ideia de alma ou mente, doença ou cura não passam de uma ideia do corpo que estamos sendo e de outros que nos aceleram, ventilam, pressionam, repousam... Até esse seu Eu|Self com nome, sobrenome, parentesco e CPF, não é, mas está sendo atualizado a cada encontro que lhe confirma ou não dele existir como entidade, dando identidade a você.

Tudo até aqui parece muito estranho, deslocado, extravagante que produz uma tensão e luta interna; tudo isso ocorre, pois, é um luxo, sem dúvidas, buscar dar significado as nossas vidas na compreensão do mistério do estar vivo (Fausto). São raros os privilegiados em dedicar um tempo a produção de si, ou melhor, do cuidar de si. Aqui, então, invertemos o senso-comum de uma vida luxuosa capturada; ou seja, o conceito de luxo (esse conjunto de sensações para formar a ideia de luxo) na coletividade capitalista onde você está cativo.

_Estamos sendo na travessia do rio_


Experimentar o estar sendo e não buscar um Eu|Self que imaginamos já ser, é dar a primeira braçada em direção à "segunda margem do rio". Parados na primeira margem, descuidados, nos matemos cativos dos "trabalhos portuários" que nos obrigam, nos mantendo alheios ao que está além da praia. Mas viver é perigoso e, navegar, preciOso.


O cuidar de si, exige primeiro compreender a tensão que habita nossa pele: do que se é e seus desejos, a organização que compõem nossos corpos sociais. Somos diversos corpos possíveis de estar sendo. Em segundo, agora de posse de um estar à espreita, aquele olhar vigilante e incorporado de si, navegar até o outro lado para se indisciplinar das posturas e descomposturas exigidas. Essa desorganização é necessária, pois acompanhada sempre de uma reorganização corporal: de se quem desejar ser.

O terceiro passo é aprender a estar sendo e não replicante dos seres|corpos do social. Cada corpo comporta uma postura que acompanha a perspetiva e os desejos desse ponto de vista. A terceira margem a ser alcançada é a do "fundo do rio". A primeira margem lhe organiza de fora; a segunda, possibilidade de sonhar com o que não deseja mais ser; agora, o afundamento rumo a terceira, lhe confere o tesão em retomar o processo criativo de sua vida. Em poucas palavras, cuidar de si (essa vida de luxo, aos raros) é voltar a ser criança. Daí que nasce a liberdade genuína e a imortalidade tão cantada por poetas, alquimistas e xamãs da vida vivida.

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