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Foto do escritorPhD. Roberto Simões

VOCÊ NÃO ESTÁ LIVRE: OU COMO CUIDAR DE SI

Atualizado: 30 de jul. de 2022


Livre não há ninguém. Somos todos capturados pela sociedade em que vivemos. São 3 categorias de captura: ou pela terra, pelo déspota ou capital. Provavelmente você, assim como eu, é cativo do capital.


Ser cativo é ter os desejos direcionados ou organizados de fora. Há uma organização social da realidade em que vivemos, e desde cedo isso ocorre, incorre, incorpora-se; por isso todo processo libertário é, mais do que exorcismo (que acompanha a ideia de higiene do corpo depositário do mal), metabolismo. Em processo de libertação aqui é, antes, metabolizado no estar à espreita do cativeiro, compreender seu funcionamento e como opera em nossos corpos essa servidão, muitas vezes, voluntária.


Aprender a cuidar de si, é uma maneira de viver com prazer e sem a culpa de ser|estar alegre. É raro todo aquele que vive em busca de sentido. Sem dúvidas é uma extravagância realmente se dedicar a essa luta, resistência ou tensão; não à toa, estes seres em luz, podem se sentir deslocados, sobretudo em coletivos marcados pela obtenção de lucro| vantagem em tudo, como a capitalista em que vivemos. Há ainda os corpos despóticos e os selvagens, mesmo que diferentes, estão capturados e necessitam vencer resistências, dores, alegrias e medos.


_Sensações e Percepções_


Somos mais que os órgãos, músculos e sangue que nos constituem, mas nunca mais do que um corpo. É que, nem tudo que nos afecta é percebido, muito passa (por nós: corpos) despercebido. Há infinitos mundos que não sentimos passar, são invisíveis.


Sensações são fluxos que, em contato com corpos, produzem estímulos psicofísicos que só serão compreendidos quando conscientes, ou seja, nomeados (significados: com sentido| signo), caso contrário, vivem e atuam inconscientes, mas ainda no corpo.

Percebemos então, o que é ou está nomeado, sabido, conceituado. O restante existe, é real, mas não é nada até ser percebido: conjunto de sensações cristalizados num conceito que vive dentro de um plano de consistência ou cartografia. Um cachimbo ou cadeira são, pois sabemos; e, aquilo tudo que nos toca, portanto, construímos uma ideia, pois experienciamos. As nossas experiências, ideias, vivências, todo acúmulo de tempo e duração que somos, são inventados dos encontros com outros corpos. Nossa ideia de alma ou mente, doença ou cura não passam de uma ideia do corpo que estamos sendo e de outros que nos aceleram, ventilam, pressionam, repousam... Até esse seu Eu|Self com nome, sobrenome, parentesco e CPF, não é, mas está sendo atualizado a cada encontro que lhe confirma ou não dele existir como entidade, dando identidade a você.

Tudo até aqui parece muito estranho, deslocado, extravagante que produz uma tensão e luta interna; tudo isso ocorre, pois, é um luxo, sem dúvidas, buscar dar significado as nossas vidas na compreensão do mistério do estar vivo (Fausto). São raros os privilegiados em dedicar um tempo a produção de si, ou melhor, do cuidar de si. Aqui, então, invertemos o senso-comum de uma vida luxuosa capturada; ou seja, o conceito de luxo (esse conjunto de sensações para formar a ideia de luxo) na coletividade capitalista onde você está cativo.

_Estamos sendo na travessia do rio_


Experimentar o estar sendo e não buscar um Eu|Self que imaginamos já ser, é dar a primeira braçada em direção à "segunda margem do rio". Parados na primeira margem, descuidados, nos matemos cativos dos "trabalhos portuários" que nos obrigam, nos mantendo alheios ao que está além da praia. Mas viver é perigoso e, navegar, preciOso.


O cuidar de si, exige primeiro compreender a tensão que habita nossa pele: do que se é e seus desejos, a organização que compõem nossos corpos sociais. Somos diversos corpos possíveis de estar sendo. Em segundo, agora de posse de um estar à espreita, aquele olhar vigilante e incorporado de si, navegar até o outro lado para se indisciplinar das posturas e descomposturas exigidas. Essa desorganização é necessária, pois acompanhada sempre de uma reorganização corporal: de se quem desejar ser.

O terceiro passo é aprender a estar sendo e não replicante dos seres|corpos do social. Cada corpo comporta uma postura que acompanha a perspetiva e os desejos desse ponto de vista. A terceira margem a ser alcançada é a do "fundo do rio". A primeira margem lhe organiza de fora; a segunda, possibilidade de sonhar com o que não deseja mais ser; agora, o afundamento rumo a terceira, lhe confere o tesão em retomar o processo criativo de sua vida. Em poucas palavras, cuidar de si (essa vida de luxo, aos raros) é voltar a ser criança. Daí que nasce a liberdade genuína e a imortalidade tão cantada por poetas, alquimistas e xamãs da vida vivida.

4 Comments

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Guest
Sep 23
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Aprendizados inquietantes, profundos, rumo à terceira margem.

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Claudia Terra
Claudia Terra
Feb 22, 2023

Incrivelmente capturado! Num contexto mais simples, não tão existencial como no seu texto, sou atravessada todos os dias por pessoas que priorizam as inúmeras personas que todos nós temos, o profissional, a mãe, o marido, etc... a seu bem estar pessoal. Ouço frases quase como lemas sabe? Tipo: "Vou me arrastando mas vou para o trabalho" Beira a estar totalmente apartado da realidade, dar mais valor a essas entidades do que a percepção da própria realidade. è tanto esforço envolvido para isso! Despertar para essa disfunção da autopercepção é muito eminente para a saúde de uma forma global.

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Abdul Jussub
Abdul Jussub
Jul 13, 2022

Cuidar de Si, como luxo (luminoso) exige ... talvez necessite. O fogo exige combustível ou necessita deste para ser fogo ? O estômago exige comida ou necessita desta para as suas funções ? O mesmo para os pulmões e semelhantes. Mais do que pedir uma coisa em virtude de um direito legítimo (pedir), cuidar de Si é natural, talvez até possa ser pensado como mais uma função fisiológica, que para desempenhar a sua função vital necessita fatores específicos.

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Deveria ser natural, mas como não estamos livres, esse desejo é capturado.

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