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Yogin Ameríndio Ancestral: O perspectivismo aplicado ao Yoga (um ensaio)

Atualizado: 30 de jul. de 2022




Os povos originários ameríndios vivem por aqui há mais de 50mil anos. São descendentes de corpos asiáticos, afirmam antropólogos e arqueólogos. Isso já supõem uma ancestralidade bem anterior as filosofias indianas e, obviamente, greco-romana. Este ensaio pressupõe yoga, como algo além das tecnologias que chegaram a nós, existentes modernos podemos pressupor.


Aos nossos ancestrais originários das Américas, todos e tudo que existe é humano, o que diferencia-se são os corpos. Isso amplia (em verdade, resgata) o “ponto de vista da imanência, e não apenas seu conceito”. Mais simples, o que varia é a natureza e não a cultura. A ideia dominante hoje entre a “cultura” yoguica moderna, é a dos yogins como xamãs com o poder|siddhi de transformar seus corpos para aprender a “ver” quem se realmente é (“mente”, alma, purusa). O que é verdadeiro: cada corpo (natureza), variando, observaria o mundo (cultura) diferente e criando “mundos outros”.


Entrementes, a perspectivista ameríndia inverte essa lógica: a cultura é constante, o que muda são os corpos, portanto, o ponto de vista do “visto”. Isso é o que muitos diriam ser relativismo: uma realidade fixa|dada, portanto, “natural” que, variando a “posição” dos corpos que as veem, criam suas próprias culturas. Os povos originários das bandas de cá afirmam que não inventamos culturas, mas corpos. E essa forma de existência pode auxiliar a repensar os yogas, yogins e yogares.


Yoga então, seria uma tecnologia sinestésica de metamorfose corporal (naturezas), pois as culturas não se alterariam nunca. Somos todos e tudo “gente”, mas em corpos diferentes. A busca yoguica não estaria (na perspectiva ameríndia original) “quem eu sou”, mas “quem estou”. Você pode estar mais peixe, jiboia, onça ou macaco do que gente. Sua alma sempre humana, mas seus afectos (corpo) mais próximos de um elefante (Ganesha?), rio (Ganges?) ou macaco (Hanuman?) do que de um homem moderno.


Cozendo seu corpo no “fogo do Yoga”, como afirma textos antigos do hatha-yoga, um yogin adquire o poder de se afectar (metamorfose mais do que processo) por outros corpos. Este yogin-xamã morreu, por isso imortal. É um nômade de corpos-afectos, pois aprendeu a viajar pelas afecções corpóreas. Neste ponto não estamos mais sozinhos ou isolados (cada um no seu “mundo criado” ou sujeito), mas seu oposto, todes condenados a estar juntos; onde só yogins autênticos seriam capazes a se “isolar” (kaivalya?), momentaneamente, como um reconectador de corpos desgarrados de seus afectos: um {healer}.


Uma serpente se vê humana, assim como um espírito (ou espectro); mas ambos (serpente e espírito) veem humanos como não-humanos. Do mesmo modo que um homem moderno vê muito pouca humanidade numa aranha, espectro ou orixá (sobretudo se for um corpo com afecções neopentecostais da igreja Reino de Deus).

O pensamento aqui deixa de ser antropocêntrico e passa a estar em antropomorfismo. O que para freudianos ou lacanianos pode aparecer uma infantilidade do mundo Disney: “ver sua própria figura em tudo: pedras, rios, animais e espíritos sendo humanos”; se revela, em verdade, em seu oposto, pois o humano não é mais especial, um ser único no universo, mas só mais um. Sua espécie (a de humanoide) não é superior à dos chimpanzés, pois a cultura é a mesma entre eles, o que se diferencia são suas naturezas ou corpos (morfologias e fisiologias).


Se alguém começa a “ver” vermes numa carcaça como peixe grelhado, este está se transformando em urubu (corpo sendo metamorfoseado). Provavelmente sua alma|”mente”|espírito|purusa(?) foi roubada pelos urubus, já morreu ou (dando na mesma) está se transformando em xamã (yogin?) — pois xamãs e mortos-vivos gozam de uma “dupla cidadania”. Em suma, todos os seres representam o mundo da mesma maneira (cultura =), mas o mundo em que eles veem se alteram pelo corpo vestidos (natureza ♾).

A pluralidade, portanto, é de corpos e não mundos. Yogin aqui é um metamorfoseador de corpos para ver outras representações de mundos (mayas), mas é a humanidade que está de fundo (yuj = reconexão). Por isso a importância em reconhecer (e nos outros corpos) quais afectos que atravessam (encontram) cada “espécie de corpo”, suas potências e disposições: “o que come, como se move, se comunica, onde vive, se é gregário ou solitário, tímido ou agressivo (…)”. Em suma, qual seu modo|modificação? Modo-jaguar, modo-Ganesha-elefante, modo-kundalini-tantra-serpente, modo-Hanuman-macaco, modo-rio-Ganges, modo-tigre-Shiva (…).


O corpo do yogin-ameríndio ancestral é o local e instrumento para “ver” ontologias (estudo do ser) variáveis e epistemes (estudo dos modos de conhecer) constantes.

Estes yogins-xamãs da América ancestral visam “não perder de vista a diferença oculta nos homônimos equívocos que conectam-separam nossa língua e a das outras espécies”. Mais do que o animismo dos cientistas de “humanas” dominantes (que acreditam que tudo tem alma), o perspectivismo dos cientistas de “corpos” partem já de que tudo existente tem alma de “gente”.


Yogins ameríndios são {restauradores} de corpos que, metamorfoseados em outros corpos, visitam (ou vestem) outras perspectivas (modos) para restabelecer, quando preciso for, afecções humanas capturadas pela ignorância (avidya). Eles se restauram como gente humanizando perspectivas de mundos.



2 comentários

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Abdul Jussub
Abdul Jussub
05 de jul. de 2022

Muito boa exposição. Considerando que os povos ameríndios possuem " uma ancestralidade bem anterior as filosofias indianas " as suas práticas não seriam denominadas de yoga (palavra do sânscrito), mas outros algos com outros nomes, do qual a pluralidade de yogares apenas terão esse nome após re-conhecerem ser herdeiros dessas tradições.

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PhD. Roberto Simões
PhD. Roberto Simões
06 de jul. de 2022
Respondendo a

A questão não é comparar filosofias (indianas ou dos ianomâmis ou guaranis), mas colocar em perspectiva td o q pensamos de pensamento yoguico até agora. “Vemos”, lemos e sentimos (praticamos) yoga sob a ótica europeia e sua filosofia “culturalista”, ou seja, q a natureza é a mesma, mas a cultura indiana yoguica varia (hinduista, budista, cristã ou portuguesa e brasileira); o q proponho de forma ensaística aqui, é inverter td: o q varia é a natureza e não a cultura, como os ameríndios pensam (“animismo”).

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