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Dr.Roberto Simões

O diálogo entre o Ioga e a Ciência


Mas, o que tipo de conhecimento é produzido pelo yoga e como ele se relaciona com o saber científico? Assim como outras religiões/espiritualidades, o yoga proporciona sentido último para a nossa existência. Como? Durante a prática do yoga nos mantemos centrados atentivamente em nosso corpo, principalmente em nossa respiração e, percebemos por experiência, que nossa consciência vagueia incessantemente alimentada pelas sensações que nos afetam. Lembranças, esperanças, medos, devaneios são percebidas na contemplação passiva de nossos pensamentos.

Formações mentais, que raramente nos apercebemos em nossa vida atribulada (ficam inconscientes, mas encarnadas), são concretizadas pela prática contínua do yoga (trazidos à consciência). A partir dessa observação passiva, dessa atenção plena ao nosso corpo, entendemos (compreensão) que todos os nossos vícios, sofrimentos, angústias e alegrias advêm de reações, muitas vezes, automatizadas às sensações de prazer e desprazer que direcionam nossas atitudes (comportamentos) e nos condicionam, portanto, nossas vidas. Esses pensamentos condicionados, ao longo e anos de prática meditativa (atenção plena), podem ir perdendo a sua força de imprimir hábitos inconscientes, de imprimir a sua marca neuronal, conhecidos na neurociência como engramas.

Na prática yoguica, observando objetivamente nosso corpo sem reagir às suas sensações de forma autônoma, vamos percebendo o ciclo vicioso em que vivemos (samsara, maya). Todas as emoções que produzimos, muitas vezes, são respostas reativas às sensações físicas do mundo e, pela compreensão dessa natureza impermanente (ambivalente) as pessoas podem desenvolver respostas conscientes às suas emoções e sentir a emoção (sentimento) de viver a sua integridade, que segundo o yoga, é perene, e assim, vivemos no dharma, éticos e moralmente corretos (kaivalya), ou seja, libertos em vida, na vida.

Ora, um dos princípios mais clássicos do yoga que conhecemos é a utilização de posturas físicas e respiratórias para se direcionar a consciência. Esse é um pressuposto totalmente aceitável e compreendido pela ótica da neurociência, da filosofia "encarnada" (Lakoff e Johnson) e da psicologia, pois as posturas corporais e a forma como respiramos, traçam estreitas e íntimas relações com o que pensamos também. Quando, após as posturas e os respiratórios do yoga, podemos atingir um estado de consciência onde nossos neurônios e, portanto, pensamentos diminuem em ativações (hiperpolarizam); torna-se assim, mais claro a observação passiva do que somos, como promulga também a doutrina yoguica (prathyahara).

Neste momento, permanecendo centrado na prática meditativa (dharana/dhyana), uma enxurrada de alterações fisiológicas se faz presente que, segundo alguns fisiologistas (ou biólogos) da religião (área ainda em desenvolvimento dentro das ciências da religião), poderiam produzir estados conscienciais ímpares que nos proporcionariam uma visão de mundo mais compassiva a todos os seres (O PAVIO SE ALONGA!), muito parecidos com os relatos de yogues e místicos de diversas outras religiões também. Seria um estado corporal que conduz seu adepto a romper com o senso-comum de uma vida sem sentido e de sofrimento.

O yoga preconiza que todo sofrimento humano vem de sua identificação passiva e sem análise da ambivalência humana. Aí, você pode estar aí se perguntando (ou ansiando) o yoga vai exterminar todo o meu sofrimento mesmo? Bem, pode ser, dependerá muito da sua fé, mas uma coisa é certa, nenhum dos "iluminados" do yoga se diz verdadeiramente sem dor, pois mesmo que a sua tenha se extinguido, ainda existe a dos outros, que com certeza, afeta sempre o todo, inclusive o mais alto sacerdote de qualquer tradição religiosa/espiritual.

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