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Os iogues e o Sikhismo: Uma transplantação religiosa em andamento no Brasil


Algo bem interessante vem ocorrendo com o ioga no Brasil. Ele vem ajudando a transplantar uma nova religião no Brasil, o sikhismo. A escola de ioga 3HO Brasil de Kundalini ioga é uma instituição com todos os princípios éticos e mística da religião Sikhi, mas com roupagem de ioga (ou o contrário). O sikhismo é uma religião que surge na Índia em resposta a instabilidade política e social entre o hinduístas e o muçulmanos - assim como outros movimentos religiosos. Do sincretismo entres estas duas religiões (Hinduísmo e Islamismo) nasce o Sikhismo. A pesquisa ainda é embrionária, mas sete são nossas hipóteses para compreender a imbricação entre os sikhis e os iogues no Brasil:

1- O Shikismo vem do Hinduísmo e Islamismo (especificamente nasce entre os místicos sufis), entretanto, nenhuma dessas duas religiões são "populares" no Brasil ainda, "não pegaram" por assim dizer. Mas o ioga "pegou", deu tanto certo que se desvinculou do Hinduísmo e da Nova Era e já possui singularidades brasileiras (como venho discutindo a quem me acompanha). Deste modo, ao invés do Sikhismo “começar do zero” no Brasil, vem entrando por uma versão “oriental” mais popular e "adaptada" – a outra seria o Budismo, mas a teologia ioguica tem maior similaridades do que a budista para os sikhis introduzirem seus bens de salvação, acreditamos.

2- O ioga brasileiro é cool hoje e muito mais high society. E os sikhis pertencem também as classes sociais favorecidas economicamente. A proposta soteriológica e ética sikhi prospera mais entre a elite de uma sociedade do que os "populares".

3- Os sikhis também, como os iogues, possuem um certo apelo corporal, haja vista a questão das artes marciais entre os sikhis (Gatka), sobretudo entre os da ordem Khalsa. Com certeza, no transplante do sikhismo ao Brasil via Kundalini Ioga, ressignificações ocorrerão. Isso sem contar quando a Umbanda e o Daime se aproximarem destes;

4- Também me chamou a atenção a questão da musicalidade ser bastante importante aos sikhis. A música é a base da doutrina sikhi, a escritura Sri Guru Granth Sahib é composto por 1430 páginas de poesia musicalizada (shabads) e os sikhs se reúnem nas Sangats onde cantam esses hinos. Praticamente todos os gurus sikhs foram músicos; um deles até criou um instrumento para as orações sikhs. Essas sangats – a versão sikhi dos satsangs e kirtans ioguicos - lembram um pouco o modelo dos Hari Krishna. Algo interessante para se conjecturar entre o microuniverso ioguico brasileiro, pois a onda ioguica de satsangs e kirtans, de cinco anos para cá no Brasil, tem se elevado consideravelmente. O que pode indicar maior envolvimento com a mística em detrimento à devoção as escrituras.

5- O ioga hoje muito mais do que as suas escrituras, a sua veia mística vem crescendo consideravelmente. Isso é deveras interessante, pois entre os sikhis, não há sacerdotes ou guias humanos de nenhuma espécie. Não há assim um proselitismo como o cristianismo ou islamismo; e o ioga no Brasil - apesar de uma crescente de cinco a dez para frente entre algumas linhagens mais vedantinas e de uma procura por aprender o sânscrito – nunca houve uma tendência de maior impacto de divulgação de sua doutrina, pelo contrário, muitos iogues se percebem portadores de uma perspectiva muito mais “peregrina” do que de “conversão”. Em palavras mais simples, há uma tendência no ioga brasileiro, por "tradição", de busca individual do que "seguir um guru". Isso é recente e ocorre, sobretudo, entre devotos de um swami indiano e outro brasileiro, recém iluminado (Dayananda e Prem Baba). Deste modo, o sikhismo e a mística se assimilam em certo grau com as práticas corporais ritualísticas ioguicas de “contato direto” e sem intermediações de mestres ou gurus com o divino.

6- Uma última característica sikhi, entretanto, os diferenciam bastante do ioga brasileiro. Enquanto os iogues brasileiros desenvolveram uma verve muito forte de cura e terapia, quase xamânica mesmo; o Sikhismo, pelo contrário, rejeitam 75% dos Vedas, e o Ayurveda é um deles. E pasmem, o ioga também é um deles(?). Será que surgirá um ioga, por influência sikhi, que rejeitará o ayurveda e toda a aproximação do ioga com a terapia-cura? Se sim, a rachadura entre os iogues-híbridos e os tradicionalistas (leia mais sobre essa temática em O ioga na América Latina aqui mesmo) se acirrará, ou talvez uma terceira designação ioguica surgirá, mas agora do sincretismo com o Sikhismo(?).

7- Contextualizando tudo isso pensamos que o sikh Iogue Bhajan (líder do 3HO Kundalini Yoga) tenha descoberto uma forma inédita de difundir a ética sikhi com o ioga no ocidente, talvez, para adquirir mais "credibilidade" a uma religião incipiente no Brasil e em outros países ocidentais, que não conhecem o Hinduísmo muito bem e percebem o Islamismo pelo extremismo de seus devotos. Enfim, é muito material e muito mais especulação nossa, mas vale o post. Uma pesquisa de campo ajudará a compreender melhor também como os sikhis (e os iogues) encaram a si mesmos e os outros. Mas o que aguardo mesmo é a Pomba-Gira e o Mestre Irineu de turbantes cantando entre os sikhis brasileiros.

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