Vive-se em uma sociedade hoje que transforma qualquer coisa em mercadoria, desde objetos, pessoas, afetos e, também, a religiosidade do Yoga. "Transformar algo em mercadoria é realçar o seu valor-de-troca em detrimento de seu valor-de-uso".
Assim, o Yoga está valendo mais pelo seu valor-de-troca do que pelo seu valor-de-uso. Me explico melhor: ninguém mais quer dedicar o seu tempo na "produção" da sua religiosidade. Isso gera dúvidas, angústias, frustrações... tempo. Muitos preferem obtê-la pronta das mãos de seus especialistas. Dessa forma, "surgem grupos e pessoas que se dedicam exclusivamente à tarefa produtiva da religião (do Yoga que você consome). A religião se torna um produto de especialistas por conta da divisão social do trabalho e o produto religioso passa a ser monopólio desses especialistas".
O Yoga visto como mercadoria, "visa a atender não apenas os interesses dos consumidores, mas também o de seus produtores", e consequentemente, a determinadas posições sociais. E, como toda a mercadoria consumida nas sociedades atuais, "o ato de consumir passa a ser designativo de posição de classe. Cidadão é o sujeito que consome e a posição de classe é reconhecida pela quantidade consumida, mas também e principalmente, pelo tipo de coisa consumida".
Como não produzimos a nossa religiosidade, passamos a posição de ávidos consumidores da religiosidade alheia, mas também ansiosos por consumir o Yoga das classes sociais mais abastadas: queremos praticar no tapetinho da nike, participar de cursos dos "yogues" mais populares, ler os livros de Yoga mais "modenos", enquanto que o velho kaivalya (liberdade) é jogado nas mãos de outros. E o pior, estes criticam alguns que buscam a sua própria trilha apontando o dedos para as falhas (segundo ele) do outro.
"Na sociedade de consumo nossa liberdade está limitada à escolha do que podemos ou não consumir. Pode-se escolher o filme que se quer assistir, o sabor da pizza ou o modelo do carro e a maioria das pessoas se dá por satisfeita com isso. A felicidade (seja lá o que signifique) custa pouco, na verdade. Ela é a maldição dos homens.
Mas a liberdade custa caro. Implica em disciplina e vigilância e não está ao alcance de todos. Segundo nossos mitos fundantes é contra os deuses que lutamos para arrancar-lhes a nossa liberdade. Foi assim com Eva, foi assim com Prometeu, é assim com todos os homens e mulheres que entre a felicidade ou a liberdade escolheram a segunda opção".
Adaptado do texto "O desejo, a religião e a felicidade" no prelo do Prof.Dr.Edin Edin Sued Abumanssur.