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Yoga: Teologia do Desapego vs Prosperidade


Por quê o yoga não "vinga" em populações menos favorecidas economicamente? Um fato inquestionável é que há mais espaços de yoga em centros urbanos e em zonas bem mais capitalizadas do que entre populações rurais e ribeirinhas do Brasil. Quando se encontra alguma iniciativa ioguica em regiões mais pobres - em favelas, COHAB's, BNH's e zonais rurais - são iogues de regiões de maior renda fazendo (ou participando) de projetos voluntários e/ou produzindo retiros para levar outros iogues que vivem em áreas de alta renda, e não para levar a palavra e a prática do ioga para lá - invariavelmente.

Com isso não afirmo que todos os iogues sejam ricos ou que não haja iniciativas bem intencionadas de mostrar o ioga para habitantes do Vale do Jequitinhonha ou dos ribeirinhos de Macapá, mas os únicos lugares que prosperam com aulas, formações e artigos ioguicos está aonde residem a população mais rica da sua cidade. Por favor, me corrijam se estiver equivocado e em sua cidade o ioga possuem mais adeptos entre os marginalizados... Por favor, discordem de mim e me mostrem grandes espaços de ioga e trabalhos (que não sejam apenas ministrados posturas fisicas, mas que saibam e discutam os sutras de Patanjali por ex ou o vedanta). Me elenquem abaixo cidades que há mais espaços de ioga nos bairros mais pobres da sua cidade do que nos ricos. Por favor, mostrem isso pra mim...

Por quê o ioga está longe dos menos favorecidos economicamente? Seria porque os leigos pobres ainda não tiveram acesso ao riquíssimo conhecimento ancestral dos sutras de Patanjali ou a mensagem espiritual do ioga - leia-se teologia do desapego não faz o menor sentido aos despossuídos?

É um fato também que as igrejas evangélicas e sua teologia da prosperidade florescem muito bem obrigado entre as classes menos favorecidas economicamente. Seria isso coincidência? Ioga para ricos e evangelismo aos pobres?

É claro que haverá sempre algum mais romântico que argumentará que o ioga moderno - portanto, deturpado pela mente capitalista ocidental - foi corrompido pelo capitalismo e a Verdade ioguica é vendida por altos preços o que dificulta o acesso dos marginalizados economicamente. Mas há inúmeras iniciativas do ioga em regiões descapitalizadas - certeza que abaixo deste post chove de iogues bradando aos ventos que um dia ele ou aquele fez um projeto de sucesso na favela da Rocinha, mas nenhum espaço de ioga sobrevive lá e também poucos "favelados" participam de cursos de formação ou se transformarão em professores de ioga da sua comunidade -, até mesmo de aulas gratuitas em parques e praças - o ioga realmente está muito popularizado, passa até na novela da Globo! - mas ele continua sendo da elite! Me mostre quantos marginalizados economicamente participaram da sua formação de ioga ou que estavam no último evento de ioga ao ar livre que você levou o seu golden retriever para entoar mantras? O ioga brasileiro não é vira-lata, ele é de raça...

Será que o ioga e a sua "filosofia" - leia-se espiritualidade/religiosidade - continua sendo dos "brâmanes" - alta casta sacerdotal? Em palavras mais simples: só pode desapegar-se quem já tem e sente-se vazio e infeliz. Este, olha para o seu apartamento na cobertura, no seu carro do ano na garagem e observa a sua vida e sente-se infeliz e se pergunta: Por quê, se eu já tenho tudo? Talvez seja isso, o acúmulo de coisas é o que me faz infeliz, ele pensa. Assim, este iogue high society investe 25mil em uma viagem de peregrinação à Índia com o seu professor/líder de ioga, depois de pagar mais 10mil - em suaves parcelas - na formação de ioga em uma ilha paradisíaca ou em um resort.

E o marginalizado economicamente? Olha para a sua vida e deseja ter acesso ao saneamento básico, ter a casa própria, um fiat uno 99 ou uma moto CG 2005 para não mais depender do transporte público. Quando o menos favorecido economicamente compreende que o ioga prega o desapego para ser feliz; olha para a sua vida e se pergunta: do que mais desapegar-se? Prefiro o catolicismo que absolve os meus pecados da semana aos domingos, o neo-protestantismo (evangélicos) que prega a prosperidade como certeza de Deus tocando a minha vida ou as religiões afros que resolvem na hora seus problemas mais íntimos.

É claro que o bom iogue, aquele que acorda as 4:30h da manhã para praticar, que não ingere carne, usa japa-mala, cordão branco, chinelos de couro, abraça arvores e conhece Patanjali e frequenta aulas de sânscrito e vedanta, olha de cima para essa gentalha e diz para si mesmo: Um dia eles sentirão o Chamado, cada um tem o seu tempo de crescimento espiritual ou qualquer outra frase autoprotetora desse povo "pequeno" - os pobres que não sabem o que é tadasana. Ou pior, do alto da sua arrogância, indaga: Ah, mas eles não se desapegaram de seus egos ainda e isso é o foco o do ioga! Como diria meu amigo punk-rapper-iogue Couras de Birigui: "Ahã, este iogue pretensioso com certeza conseguiu né?"

Saibam, iogues verde-amarelos que o brasileiro popular, o Zé da portaria do seu prédio, a Dna Maria que trabalha na sua casa e que aprendeu a cozinhar sem carne o almoço para você, sabe e compreende muito bem a mensagem do ioga. Estes sorriem das "lajes" periféricas da sua ignorância, pois sabem que é você que ainda não se "ligou" o quanto o ioga brasileiro tem conduzindo-o ao egoísmo, a violência verbal, ao moralismo e à alienação.

Então Prof.Roberto, você não acredita no ioga como caminho espiritual? Sim, acredito, por isso que escrevi esse texto.

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