A História Secreta do Yoga: leitura de um artigo recente
- PhD. Roberto Simões

- 14 de jul.
- 2 min de leitura

O artigo "A Secret History of Yoga: The Myths of Modern Yoga between Science, Devotion, and Ideology", de Paolo Proietti e Andrea Pagano, propõe uma desconstrução crítica da narrativa ocidental dominante sobre o yoga, revelando suas raízes complexas, sincréticas e frequentemente ocultadas por idealizações modernas. Abaixo, segue um resumo organizado por tópicos principais:
📌 Tese Central
O yoga moderno, tal como praticado e entendido no Ocidente, é uma reconstrução recente, fortemente influenciada por ideologias políticas, colonialismo, espiritualidades de exportação e práticas atléticas locais. Trata-se de uma tradição inventada, que frequentemente omite aspectos históricos fundamentais como a militarização, a ginástica e a luta dos yogis.
1. As Quatro Faces do Yoga Moderno
O artigo identifica quatro formas principais de yoga praticadas hoje:
Físico (Haṭha, Vinyāsa, Ashtanga)
Intelectual (Jñāna Yoga)
Devocional (Bhakti, Karma Yoga)
Psicológico (Mindfulness, PNL, constelações familiares)
2. Yogis, Guerreiros e Ginastas
O yoga sempre esteve integrado a práticas corporais vigorosas, como luta (mallayuddha), ginástica (mallakhamb) e artes marciais.
Textos como o Malla Purāṇa mostram que, no passado, yogis também eram guerreiros e atletas, como os Jyesthimalla, brâmanes lutadores e guardiões de tradições marciais.
A separação entre “espiritualidade” e “corpo atlético” é uma invenção moderna.
3. O Yoga como Ferramenta de Luta Política
Muitos yogis, especialmente os sannyasins, participaram de movimentos armados contra a dominação britânica.
O hino Vande Mātaram é dedicado à “Mãe Índia” como deusa nacionalista, e era entoado por grupos insurgentes.
A espiritualidade hindu foi usada como base para movimentos de libertação nacional.
4. Influência Greco-Budista e Sincretismos
Há um rico intercâmbio entre a filosofia grega e indiana desde Alexandre o Grande.
O budismo Mahāyāna nasceu do sincretismo entre o budismo e a arte e filosofia grega (Gandhāra).
A própria representação visual do Buda (com feições helênicas) surge nesse contexto.
5. Crítica à Antiguidade dos Vedas e do Sânscrito
Os autores colocam em xeque a cronologia tradicional dos Vedas, sugerindo que a escrita sânscrita pode ser bem mais recente do que se afirma (talvez pós-século II d.C.).
A “linguagem-mãe” ariana e a narrativa da invasão ariana são atribuídas a Max Müller, filólogo alemão com motivações ideológicas e coloniais.
6. A Despolitização Moderna do Yoga
O yoga moderno despolitiza e “desarma” sua história, apagando sua ligação com resistência, guerra, corporeidade e nação.
Vivekananda, Aurobindo e outros “mestres” do século XX estão inseridos nesse movimento de reconstrução ideológica.
7. Ginástica, Filosofia e Corpo no Mundo Antigo
No Ocidente moderno, ginástica é vista como inferior à espiritualidade.
Mas no mundo antigo (Grécia, Índia), a ginástica (gymnosophia) era uma prática espiritual, médica, filosófica e marcial.
Sócrates é apresentado como exemplo de filósofo-guerreiro, semelhante aos yogis antigos.
📚 Referências e Interlocutores
Joseph Alter, William Pinch, Alf Hiltebeitel (antropologia do corpo e yoga marcial)
Norman Sjoman (tradição atlética do Yoga em Mysore)
Textos clássicos: Malla Purāṇa, Vedas, Plutarco, Strabo, Diogenes Laertius
🎯 Conclusão
O yoga, tal como o conhecemos hoje, é fruto de uma reconstrução político-cultural recente que apagou seu passado combativo, atlético, sincrético e patriótico. A história do yoga precisa ser reescrita à luz da arqueologia, das fontes esquecidas e das influências mútuas entre culturas antigas. Este livro é um convite à revisão crítica da tradição, contra mitos orientalistas, espiritualismos ocidentalizados e apagamentos históricos.




Comentários