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YOGIN APEGADO AO DESAPEGO-KLESA


O desapego é a pedra de toque de yogares modernos capturados pelos Yogas-Estado e|ou axiomatizados pelos Yogas-Capitalísticos: DESAPEGUEM-SE!, gritam muites yogins-do-bem, alienados (avidya) e devotos da letra, dos gurus-guris e suas igrejas. Mas vamos voltar a uma das engrenagens que operacionalizam o Yoga-Estado mais conhecido entre nós latino-americanos: o Yoga-Darsana de Patox.


Despegar, em sua etimologia e significado, pressupõe eliminar qualquer hábito, interesse, “tendência” (vasana) que esteja decompondo uma dada relação entre corpos, entristecendo, assim, agenciamentos potentes, em suma, diminuindo sua potência em viver e, eliminando em ato contínuo, qualquer chance de escape do desejo. Lembre-se que nós aqui, trabalhamos com a filosofia da diferença ou yogar nomádico e selvagem, portanto, o corpo é parte da natureza, assim como sua consciência, mente ou self; todas as ideologias, sentimentos, emoções (vrttis), são, portanto, amorais e apenas ideias do corpo. A filosofia da imanência é o oposto da filosofia transcendental, pautada na busca neurótica ou paranoica de essências, do Ser ou Self - seja dentro|não-dual ou fora|dual do corpo.


O desapego é um dos obstáculos (klesas) na senda espiritual versada no Yoga-Darsana, proposta no consagrado Yoga-Sutras - uma dentre outras escrituras e epistemes yoguicas inventadas.

O desapego-klesa, portanto, faz par com outro klesa|obstáculo, a Aversão e mais dois obstáculos: o Medo da Morte e o Orgulho (ou a falsa identidade sobre si). Entrementes, todos os klesas (apego, aversão, medo de morrer e o cultivo de um cosplay de Eu|Self), são dobras de um mesmo klesa-Mãe, a Ignorância ou Alienação (avidya). E aqui avançamos na cartografia da compreensão dos obstáculos de qualquer yogin que busque enveredar no sadhana (ascese espiritual) proposto por Patanjali:


O apego-klesa é uma força a ser evitada quando de mãos dadas à alienação (klesa-avidya).

Nesta práxis yoguica (teoria-prática), não é desapegar-se de tudo e de todes, caso contrário, o próprio Yoga-Darsana, deveria também estar em “desapegamento”. Há que se injetar doses de prudência em qualquer yogar gente-fina-elegante-e-sincero. Desapegar-se, então, de tudo aquilo que acompanha alienação, esse é o papo-reto, caso contrário, não é desapego-klesa, mas puro e simples desespero.


Vem, que vamos avançar mais um degrau cartografia kleshiana ou dos obstáculos do Yoga-Estado-Darsana.

Todo poder é impotente, por isso mesmo que yogins em nomadismo buscam potência nos encontros, nunca empoderamentos. São todes eles contra Yogas-Estado e Capitalísticos. Se houvesse um anti-klesa que yogins livre-pensadores buscassem como aliado, seria o da coragem em viver - oposto ao klesa-medo-da-morte - como encantados em versos de yogins poetas bailando em crematórios e cemitérios, vestidos da lua e azulados pelas cinzas dos siddhantas evocados na hora grande, onde "Exus e Pombas-Giras realizam seus trabalhos de magias em favor dos seus médiuns, fiéis ou simpatizantes" - seria os siddhas, exús?


Com a narrativa do desapego-alienado, há uma despotencialização da corporeidade, fomentando desejos idealistas, por isso, delirantes e metafísicos. Em uma expressão: todo yogar servil e voluntário advém do desapegar-alienado Sempre que ouço discursos desapegantes, vejo a carequinha do francês Fucô correndo, elegantérimo, com sua sunga de crochê em Mosqueiro, no Pará, saltando com os dois pés no peito de todes corpos yoguicos desatentos. Todo yoga em assujeitamento forma uma “rede implacável de vigilância coletiva e de autovigilância”, tipo um panóptico (leia o artigo Espiar e Curtir de Miila Derzete).


O que buscam os yogins selvagens, aqueles que não se deixam domesticar? Desejam organizar, anunciar e ensaiar novas subjetividades revolucionárias, mas só enquanto fluir tesões nas nervuras relacionais (por isso nômades), depois de uma duração relacional, essa força|desejo|tesão|prana, naturalmente, se dissipa em novas dobras e desejos - como quando um bom professor de yoga ensina seus educandos sentirem seus corpos num gesto yoguico: combinação singular (duração, intenSão e intensidade) de asana, pranayama e bandha, por exemplo. Todo Yoga-Estado ou Capitalístico foi um dia linha-de-fuga que se deixou sedentarizar: alienados, esses yogins antes pura potência, esqueceram de desapegar do yogar-aliado e passaram a prestar culto a uma “caixa de ferramentas” ou gesto yoguico como deuses.


Os modos conservadores ou capitalísticos de organizações yoguicas se apresentam (se vendem) como definitivos, puros e perenes, pois necessitam se afirmar a todo instante como únicas formas essenciais de se yogar; eles se atualizam de si mesmos, sobretudo graças a devotos incensando hierarquias em círculos de consagração de poder: são fracos.


O modo revolucionário de yogar, por novos e infinitos lados, estimulam as singularidades yoguicas e multifacetadas para que novas funções tesudas escapem à sobrecodificação (ou cooptação) burocrática dos modos yoguicos dominantes. Não para aniquilar o antigo, o tradicional, mas horizontalizar um campo espiritual de yogamentos possíveis.

É dessa força (e não forma) que subjetividades yoguicas outres surgem, abrindo espaços a desejos e potências antes impossíveis, utópicas. São desses agenciamentos que o budismo, o trantrismo e o nathismo surgiram pelas bandas de lá, e o yoga marginal (RJ), o perifayoga (BA), coletivo araras (TO) e o método de yoga restaurativo (RJ-SC) nasceram pelas bandas de cá, só para citar algumas estéticas sem motrizes indianas que já fazer passar em corpos excluídos do banquete antropofágico yoguico ritual brasileiro. A subjetividade desapego-alienado vem operacionalizando muitos corpos yogins se sedentarizarem em modo resignação (corpos yogins cansades), cooptando tesões, produzindo tensões sem intenSões indisciplinares. Os yogins agenciados por yogares revolucionários nômades, intentam esgarçar yogares neoconservadores-capitalizantes sedentários e replicantes.


Não se apegue a esse desejo de sair do assujeitamento de ser um anarya ou dasa (párias na estrutura de castas na Índia).
Não tenha aversão de sua posição subalterna: {há um ato nobre (aryano) aí}.
Não tema a morte, viva sem reclamar, obedecendo a um livro sem questionar. Todo guru-guri sabe o que diz, afinal, morou na Índia!
Me siga certinho, quiçá na próxima vida não reencarne igual a mim: brâmane, branco, privilegiado, alfa, com poder…
É muito orgulho sustentar essa sua impostura e indisciplina, não?
Tenho mais tempo de yoga do que você! Quem você pensa que é?
Há uma lógica para as castas existirem, nosso sangue é de outra fisiologia, por isso azul.

Quando novas subjetividades yoguicas revisitam motrizes e estéticas indianas, mas inventam caminhos outres, acionam forças desejantes em utopias ativas e não vidas reativas com yoga; quando sentir e perceber essa fruição - ou ato de desfrutar, ou ter prazer com algo -, aí, toda forma yoguica personificada como única, atemporal e "essencial" se tornará cafona, não fluídica, anti-estética, estéril. Yoga, agora (nesta quadra da história yoguica brasileira), vem assumindo imposturas indisciplinares de boniteza, pois cozendo|benzendo corpos potentes num desapegar natural aos maus encontros|agouros.


Seria a chegada de corpos dos alquimistas pretos chegando na parada?

A morte deixa de ser definitiva e inicia mais uma dobra nomádica e selvagem como espelhos de Shiva-Durga e seus filhos Ganesha (esse exú-mirim abridor de caminhos com o machado de Xangô) e Skanda, brou do cabeça-de-elefante, deus guerreiro, pavoneando-se do esquecimento que fizeram dele, pois se deseja a paz, prepare-se para a guerra com Skanda.


Essas novas subjetividades revolucionárias yoguicas, ou contemporâneas, que vem raiando no Brasil, para não serem capturadas (pois há sempre o risco de), precisam conseguir manter-se em suas “dimensões cooperativas, plurais, anticentralistas, anticorporativas, antifascistas, antirracistas, antissexistas e etc”, só assim, continuarão manter a tensão necessária de suas capacidades produtivas das singularidades (p.90).


Estes yogares moleculares irreversíveis, talvez, não gerem novos yogares. Mas isso é absolutamente irrelevante aqui, só yogins-capitalísticos cultivam tal desejo. Yogins nômades e selvagens não são “guardiões da sagrada família yoguica e suas tradições” ou "empreendedores do mercado espiritual e seus novos nichos e avatares". Eles são artistas de novas linhas-de-fuga, mas estão se f*udendo se novos yogares darão certo no mercado; eles produzem máquinas-de-guerra-Yoga ou forças|tesões yoguísticos agenciados que insistem em escapar das formas capturadas: eles estão em busca das forças kundalínicas.


Nunca haverá ou houve YOGA NÔMADE E SELVAGEM, isso é uma contradição dos temos, só há yogares. Um yoga é sempre sedentário, um yogar sempre fruição.

Mais fácil, yogares sem-Estado|Tradição não são cognições pré ou proto-yoguicas, algo que ainda espera ser yoga, mas uma sofisticação social e espiritual. Todos os yogares são uma força tesuda contra yogas brahmachararyzantes (celibatários e castos). Todos os movimentos xamânicos, feiticistas ou coven's do yoga são micropolíticas e microespiritualidades em deslocamento por grande sertão: veredas, longe de qualquer enquadro de milicos ou monges em retiros de Yogas-Ashrams. Dito de outra força: são movimentos yoguicos revolucionários em busca de seus desejos. Suas éticas e estéticas yoguicas desejam desejar acima de qualquer outra coisa, por isso tesudas e vivas, afrontadores natos da moral e dos bons costumes sedentários e castradores.



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